quarta-feira, 27 de julho de 2016

A dor alheia é indigesta.

Uma mensagem me tirou do sono forçado, não havia deixado o celular no modo silencioso porque esperava, na mais burra esperança, a resposta do meu futuro ex dizendo que morreríamos juntos, mas dele não havia nada e sim da Lara.
Com a esperança esmagada e um novo rancor pensei em ignorar o mundo e chorar por mim, mas logo me senti um tanto cruel; fora ela, a pessoa com um espírito de doação como não se pode copiar que sofreu cada perda, cada rompimento e gozou de cada alegria que eu tive na vida. Por alguma razão eu nunca consegui retribuir com a mesma sinceridade, embora fingisse bem, pois o gesto faz o seu papel quando o coração é negligente.

Depois de treze anos e dois filhos ela descobriu, que além de uma carreira em comum na publicidade, ela e o marido também partilhavam uma DST (doença sexualmente transmissível). Ambos contraíram Aids e não era só isso, ela "precisava conversar com alguém que fosse capaz de entender sem julgar", Sem nenhuma  vontade, mas cheia de remorso se não o fizesse, decidi ouvir tudo do começo ao fim; eles se conheceram na festa de aniversário do namorado dela de escola, foi amor à primeira vista. Ela estava lá arrumada e perfumada para ser a melhor lembrança daquela noite dos vinte e um anos do cara perfeito que ela conheceu aos dezessete, porém terminou sendo a noite mais traumática já que terminou naquela mesma ocasião alegando
diferenças irreconciliáveis numa relação onde não havia desentendimentos. Bocejei sinceramente. E porque tudo aquilo não era mais amor? Ela estava desesperada, eu quase vomitei com tamanha futilidade. onde já se viu levar a sério uma foda que ela conheceu no aniversário do cara CERTO? E continuou; eu tive que deixar o Felipe porque o Daniel foi tudo o que eu sonhei para mim; "alto, atlético, perverso e bem dotado". Tinha mais é que se foder, concluí, com esses pré-requisitos patéticos. Eu era diferente, queria as pessoas pelo o que elas tinham de bom, mas porque eu tinha me fodido também? Me perguntei isso enquanto analisava a dor dela que não me afetava em nada.
Ela continuou falando dela e eu de mim. Trocamos textos sobre nossas dores e inseguranças pelo resto da  madrugada onde ninguém ouviu ou leu, apenas desabafou. E que melhor entendedor do que um morto? Ninguém.

Porém, mortos costumam também ser insensíveis.



Um comentário:

Alam Arezi disse...

Palmas!!!

Os fins passam também.

"Hang on"!!!