sábado, 27 de agosto de 2016

Amor semântico

Na cama.

-Amor, soca!
-Soca? Não existe resto de comida aqui.
-Seu bobo, vamos, fica pelado.
-Como assim?
-Vai tira a cueca logo.
-Espera um minuto.

(Silêncio).

-Por que tu pronunciastes sempre errado?
-Ann!?
-Primeiro tu falaste “fica pelado”, só estamos em dois aqui. A não ser que vós tenhais outro…
-Que outro?
-Tu falaste em terceira pessoa. E depois “tira a cueca”, novamente em terceira pessoa. Tu não me amas...
-Como assim? Do que você está falando?
-Vossos erros de pronuncia.
-Você vai liga para isso?
-É “Isto!”, não “isso”. E como não vou ligar? Isto é um defeito de vossa família. Sua mãe me dissestes “Trate ela bem, e ela 'amara' você. Me digas, conhecemo-nos no passado do passado? Para ela falar isto? Amará! Ouviste bem? Amará!
-Eu não estou acreditando, vou ir embora!
-Estás vendo! “Vou ir”, vós pronunciastes o mesmo verbo duas vezes! Duas! No presente e no futuro.

(Ela levanta, se veste, junta as roupas, e pega o telefone indo em direção a porta).

-Espera!
-O que você quer, senhor português?
-O viagra fez efeito, pega a camisinha na gaveta.

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